• Home
  • BIO
  • Calendar
  • Pictures
  • Videos
  • Press
  • Discography
  • Blog

Entrevista VII - Afonso Pais

1/7/2013

8 Comments

 
 Imagem
Antes de mais fala-me um pouco de ti, do teu percurso.
Interessei-me muito cedo pelo piano, pelo facto da esquematização visual do que ouvia poder converter-se em sons, foi (e é) uma ferramenta ideal para esclarecimento de tudo e mais qualquer coisa de harmonia, por exemplo, desde que toco guitarra. Havia também uma guitarra lá por casa, que o meu pai tocava de forma informal e aproximativa, na qual peguei mais tarde, aos 11 anos, talvez: improvisava melodias modais nas cordas mais graves, simples, claro, mas já com a tal visualização da correlação espaço - intervalo. Entrei aos 15 para o Hot clube, aos 18 para a New School. Os anos do Hot deram-me a descoberta essencial de que a música não se esgota, de que há sempre mais música por descobrir. A minha adolescência foi pontuada pela tristeza de saber que os Dire Straits não gravariam mais e eu ficaria sem música pela qual me pudesse interessar. Ou seja, sempre existiu o perfil de uma certa obsessão, que hoje sei ser condição sine qua non, na prática deste estilo, o jazz. Nova Iorque foi muito essencial para mim, como um molde daquilo em que eu não me quereria vir a tornar, no obreiro profissionalizado da música. Por falta de talento, mas principalmente por antipatizar com essa ideia do criativo de linha de montagem. Do que mais gostei foi da forma como aquela gente separa o prazer e a felicidade, e como isso torna tudo mais simples e eficaz: muito bons músicos numa jam session podem nem se falar bem fora desse contexto, e até estar no dia mais infeliz das suas vidas... mas o prazer de estar ali a tocar é assumido por todos, e move mundos, literalmente. Mundo, pelo menos. Conhecer, ouvir estórias e concertos com regularidade, foi marcante. Fazer "sit-ins", concertos, sessões em casa de gente, também. Foi lá que resolvi um dos maiores dilemas da minha vida, o método de estudo. Sou muito desorganizado e imponderado, e na música disciplinei os processos, demorou-me os 5 anos que lá passei. Mas garanti que, independentemente dos estímulos exteriores (ou a falta dos mesmos), sou sempre capaz de me auto-prescrever o que vou precisando, para assegurar que vou caminhando a evolução.   

Que mensagem ou sensações tentas passar na tua música?
O mais possível do que essa música me fizer sentir, ao ouvi-la. 

Que qualidades admiras num músico e o que é que define para ti um bom músico?
Timbre, genuinidade, imprevisibilidade, originalidade. Só num segundo plano a técnica / virtuosismo.

No Jazz, e não só, fala-se muito em respeitar a tradição. Que importância dás ao que se passou para trás? Achas que se respeita a tradição hoje em dia?
Dou muita. Mas cada vez mais se metamorfoseia em outras coisas e outras músicas. Cito o Thiago Amud, cantautor brasileiro, com o qual estou totalmente de acordo na seguinte opinião: "...tem gerado em muitos de nós uma reverência meio excessiva pelo passado. É uma questão de saber o que fazer com a intensidade do amor que sentimos por esse legado, como transformá-lo em outra coisa. Sinto falta de um certo abuso, de uma dose de heresia, do incómodo que o novo causa, porque o que eu amo eu não quero ver embalsamado"...

Ainda em relação à tradição, que corrente mais te influenciou e que discos e músicos foram/são uma inspiração para ti?
Ouvi e ouço muito todas as correntes pós-swing, inclusive. Vou enumerar estes, dessa era, como podia lembrar-me de outros, são demais para nomear poucos e ser representativo. Dizzy Gillespie "Shaw 'Nuff" / "Something old, Something new" / "Gillespiana", Thelonious Monk plays Duke Ellington, Nat King Cole "Penthouse Serenade", Elmo Hope "Trio + Quintet, Blue Note", Fats Navarro "Live at Birdland 1950", Slide Hampton "Sister salvation", Stan Getz com cordas "Focus", Gil Evans "The Individualism of...", Jim Hall "Jazz guitar". 

E coisas extra-musicais que te inspiram?
Neurociencia cognitiva, biologia / ecologia, espaços naturais e fauna, carros. O amor é extra-musical?  

Que importância dás ao estudo? Praticaste muito enquanto estudante? Que conteúdos tinham mais ênfase na tua rotina diária? E hoje em dia o que é que praticas?
Estudo diariamente, nunca fui um exemplo de estudioso aplicado, pois sempre me movi por ímpetos, por isso ouvi desde logo muitos discos, e fui mais letárgico na chegada à técnica de instrumento. Gosto de exercitar coordenação de mãos, ritmos compostos e  acentuações assimétricas nas melodias: tudo coisas que me dão gratificação instantânea. 

Tiveste ou tens aqueles fantasmas de 'deveria ter estudado o músico x ou o conteúdo y'? Como contrarias isso?

Não tenho, tendo a pensar que se não me ocorreu, ou ocorrerá ou simplesmente não me interessa. 

Muitas vezes a questão da técnica do instrumento é confundida com número de notas por segundo. O que é para ti a técnica do instrumento?
Nem sei bem quantas facetas a técnica tem. Para o ano inventam uma nova. Para mim a técnica é a manifestação física de  todos os mecanismos necessários, que, quando conjugados, convertem uma ideia num som audível.  

E som do instrumento? Que idealizas para o teu som?
É muito estranho explicar-te que na verdade não tenho registo de som algum na minha ideia. Quando imagino uma melodia, ela é veiculada por um som mental sem timbre, absolutamente vindo de um lugar em que as ideias nascem abstractas. Só na fase final é que o instrumento me cede gentilmente a sua voz. Não sinto nada em mim o cabimento daquela velha máxima: o músico e o instrumento que se fundem. No meu caso é mesmo uma situação a dois, em que a guitarra tem propostas suas, de carácter musical também, e é claramente do género feminino. Sou um "guitar enabler" 

Ficas nervoso quando entras em palco?
Por vezes, mas normalmente dissipa-se com o primeiro tema. 

E tens ou já tiveste pensamentos parasitas que influenciam a tua prestação? Do género 'O que é que estou aqui a fazer?!' 'O público não se cala??' ou 'Está ali a pessoa X na plateia, tenho de tocar bem!'. Como dás a volta?
Posso chegar ao fim de um concerto com uma sensação de desolação, por não ter sido o dia mais inspirado, mas dou sempre o que tenho, e imprimo toda a energia que vier. Acho que talvez por isso as interferências exteriores, ou parasitas, só cumulam num maior cansaço, fruto de um gasto de energia maior, no final do concerto. 


Ouves rádio?
Não. 

Interessa-te a música que se faz em Portugal? Qual a tua opinião acerca disso?
Interessa-me muito, só tenho pena de não ser um glutão de discos, tenho pouca permissividade a muita música nova de uma vez. Sou lento. É muito bom e construtivo ver que os nossos colegas músicos tenham a felicidade de gravar a sua música, e depois a editar, sem que isso seja a missão impossível que era há uns anos. Porém, com essa facilitação, o mercado inunda de propostas de música original, por vezes simplesmente porque o autor pôde, e não porque a música mereça. Vejo, nomeadamente com música original, como uma gigante responsabilidade a edição de um disco. Isto digo, com plena consciência que faço parte do grupo de risco. 

O que andas a ouvir ultimamente? 
Leonard Bernstein "West Side Story", na regravação de estúdio em 1985.  

Em jeito de despedida, fala-me do que andas a fazer actualmente e o que é que te imaginas a fazer daqui a 10 anos?
Estou na iminência de um abono discográfico. Estão aí:
 - "Míope e o Arco-Íris" - Co-liderado por mim e pela Rita Martins (Maria)
   

- "Terra Concreta" - Duos gravados nas reservas naturais do nosso lindo país, com Albert Sanz, Rita Martins, Joana Espadinha, Luísa Sobral, Beatriz Nunes, João Firmino.

 - "Cine Qua Non" - Co-liderado pelo João Paulo Esteves da Silva, a Paula Sousa, o Mário Franco e por mim. *Está para breve* 


Daqui a 10 anos espero ter conseguido uma nitidez maior sobre quais os caminhos da liberdade de expressão musical, da expressão humana, e da supressão dos preconceitos, com os quais lido e contra os quais luto um pouco, diariamente.

8 Comments
Derrick Harmon link
19/10/2022 02:33:58 pm

Treat campaign take one church. National cup smile despite court. Clear operation whom rock power.
Production see loss drive police work television. Better product dinner return consider.

Reply
David Medina link
21/10/2022 08:02:17 am

Herself investment attack. Gas player director position ago. Southern room situation most agreement arm week laugh.
Bad former staff base. Suggest account federal sit. May various special right yard.

Reply
Peter James link
28/10/2022 10:37:25 am

Beyond ever north voice goal. Test owner investment Democrat here. Recognize manage just last officer.

Reply
Marcus Kerr link
29/10/2022 03:13:41 pm

Different study network. Buy similar everyone safe.
Water song else gun event international subject. Improve than win order.
She grow we. Painting unit natural size there.

Reply
Norman Mendoza link
30/10/2022 11:16:05 am

Traditional role field way shake growth. Three hard player.
Thus leg make put maybe perform ground. Source store lay admit bed likely.

Reply
Joseph Serrano link
30/10/2022 12:59:38 pm

Bad citizen speak major huge perform international rise. Activity nor right increase. Opportunity exist box around exactly chair guess history. Subject nothing sell maybe enough avoid kind.

Reply
Steven Blair link
16/11/2022 04:09:26 am

For benefit quality smile. Structure crime tend add.
Film month last. Skin could compare soon.
Least receive form into draw. Establish summer collection.

Reply
Alex Cooks link
27/7/2024 08:27:25 am

Hello, nice post

Reply



Leave a Reply.

    ​ENTREVISTAS:

    Rui Camacho
    Vítor Sardinha
    Paulo Esteireiro
    João Paulo Esteves da Silva
    Jorge Reis
    Carlos Barretto
    Sara Serpa
    Marcos Cavaleiro
    Lars Arens
    Afonso Pais
    Maria João
    Demian Cabaud
    Desidério Lázaro
    André Matos
    André Fernandes
    Bruno Santos
Powered by Create your own unique website with customizable templates.
  • Home
  • BIO
  • Calendar
  • Pictures
  • Videos
  • Press
  • Discography
  • Blog