• Home
  • BIO
  • Calendar
  • Pictures
  • Videos
  • Press
  • Discography
  • Blog

Entrevista VIII - Lars Arens 

1/8/2013

3 Comments

 
 Imagem
Antes de mais fala-me um pouco de ti, do teu percurso e dos momentos que mais te marcaram até hoje.
Na minha família o interesse em música vem mais do lado do pai, pensando na infância em que as minhas duas irmãs e a minha mãe tinham mais interesse em cavalos (tínhamos 2).
Comecei com flauta doce aos 5 anos que não era bem a minha cena e mudei para bateria aos 6 anos.
Aos 15 anos comecei com o trombone e larguei a bateria ainda no mesmo ano:  Tinha uma mão esquerda demasiado fraca para tocar isso. Curiosamente, na mesa é-me indiferente em qual lado está o garfo e em qual a faca, dá igual das duas maneiras...
A partir dos 17 anos dei os primeiros passos, tentativas de escrever música sem formação harmónica nenhuma.
A minha primeira banda a tocar só música original criei aos 18 anos.....até chegámos a tocar em três festivais locais.
Aos 20 fiz prova de acesso à Big Band Nacional da Juventude, junto com a Summit Jazz Orchestra de Augsburgo, foram as melhores orquestras de jazz onde cheguei a tocar até hoje.

Momentos que me marcaram/inspiraram? São muitos... Ainda criança fui ver com o meu pai o Dave Holland Quartet (com Steve Coleman-sax/Kevin Eubanks-guit/Marvin Smitty Smith-bat), mais tarde o Cedar Walton Trio (com o David Williams a partir logo a corda mais grave, teve de tocar com 3 cordas o resto do concerto...), Elvin Jones Jazz Machine, o trio Geri Allen+Charlie Haden+Paul Motian... Mais tarde lembro-me de ter assistido ao duo John Abercrombie/Marc Copland, incrível...... E impressionou-me um concerto duplo que vi na minha cidade do Bill Frisell Quarteto + Joey Baron , música do álbum "Quartet" só com guitarra, violino, trombone, trompete... na primeira parte, Joey Baron tocava bateria solo.
Ao longo dos anos em Portugal, destaco os concertos dos "Root 70"  (Nils Wogram)  no Hot Clube e o John Hollenbeck Large Ensemble no "Jazz em Agosto" há dois anos. Também vi um concerto espectacular da "Bob Brookmeyer New Art Orchestra" na Culturgest.
Os "Root 70" (Wogram, Chisholm, Penman, Rueckert) demonstraram de forma impressionante qual a diferença entre um grupo e um conjunto, além de destacarem uma nova forma de escrita para "small ensemble".  A música era ultra-complexa e difícil de executar mas para estes músicos de topo, parecia tudo fácil. Nunca seria possível tocar assim no esquema "2 ou 3 ensaios e bora fazer concertos".

Que mensagem ou sensações tentas passar na tua música?
Composição e improviso para mim é bastante parecido, no entanto o improviso acontece dentro de períodos de tempo de duração mais curta do que quando se compõe. No que diz respeito a improvisos ou interpretação de um tema no meu instrumento por exemplo, isso é uma coisa espontânea, daquele instante. Se eu amanhã solar sobre um tema meu, eu ainda não sei em que estado mental e físico vou tocar amanhã, nem consigo dar garantia de passar alguma coisa em concreto.
Na composição no entanto há sim sensações/estados de espírito, etc. que me podem servir como elementos inspiradores (entre outros elementos inspiradores possíveis) e que me motivam para conceber um determinado tipo de temas que podem ser inspirados em sensações positivas ou negativas que num determinado dia ou numa determinada fase dominam a minha vida.


Que qualidades admiras num músico e o que é que define para ti um bom músico?
Dentro do termo músico escondem-se profissonais em que a percentagem entre ser artísta (implica criatividade) e ser instrumentista (dominar o instrumento ) varia imenso. Existem músicos que tocam simplesmente muito bem o seu instrumento mas que nunca vão escrever um único compasso de música original e talvez não tenham sequer interesse. Se este mesmo músico for capaz de dar alta interpretação/execução de um tema (escrito) é capaz de me impressionar na mesma.
Por outro lado um músico com alto potencial criativo (a manifestar-se a nivel de composição por exemplo) vou sentir algo inferior comparado com o exemplo anterior, se o seu domínio do próprio instrumento for fraco.
Deixemos para já em aberto o que é um bom artista, mas um bom músico para mim toca o que quiser, desde que demonstre que domina o seu instrumento em vez de ser dominado por ele. Ao abrigo do termo free escondem-se "artistas" que demonstram a sua originalidade com a não-preocupação em dominar o instrumento. Se optei por tocar trombone isso tem a ver com meu gosto pelo som característico deste instrumento, não é? Se o meu objectivo for criar unicamente sons e ruídos estranhos (do género "cliché free-jazz", não confundir sérios artistas do género free), isso não preciso de fazer num trombone, podia soprar também num regador de plantas.

No Jazz, e não só, fala-se muito em respeitar a tradição. Que importância dás ao que se passou para trás? Achas que se respeita a tradição hoje em dia?
O que se passou no passado influeciou o que se toca hoje. Neste sentido tenho respeito pela tradição e os seus protagonistas. Mas não vejo como o meu dever, reproduzir a tradição. Admito a importância de estudar a tradição até a um certo ponto e de ser capaz de tocar determinados temas e determinados estilos. Mas prefiro dedicar-me a musical mais actual e original. Sinto que faça isso melhor.
"Respeito" pela tradição para mim não significa a constante obrigação de olhar para trás.
Permito-me citar uma frase de um dos meus heróis de composição, John Hollenbeck a ser entrevistado pela JAZZ.PT :
"Se jazz é música que olha para a frente, à procura de algo intangível… então sim, adoro chamar-me a mim próprio um músico de jazz. "

Ainda em relação à tradição, que corrente mais te influenciou e que discos e músicos foram uma inspiração para ti?
Não me consigo limitar à tradição nesta pergunta. Na verdade custa-me limitar-me ao termo jazz!
Diria que até a altura em que entrei a estudar na escola superior tive fases em que ouvi quase exclusivamente determinados grupos, as fases mais importantes refiro aqui. Estas fases chegaram a um final, mas continuo a gostar dos artístas. Saliento que estes grupo ouvi com especial atenção ao som do grupo e a orquestração, e não um ou outro solista em particular.

•                     Fase de "progressive big band", ou quer dizer, protagonistas que emanciparam a música big band da música de dança. Saliento a orquestra do Stan  Kenton e o seu elenco de compositores arranjadores.

•                     Toda a obra Gil Evans pós- "Birth of the Cool". O Birth of the Cool que é o mais "tradicional", acho um seca. Detesto ensopado tímbrico em texturas mais tradicionais, nesta texturas nunca optaria por esta instrumentação.  (Cometi um sacrilégio?)

•                     Toda a obra da Carla Bley. Foi mesmo uma fase longa e intensa  (TWSS), que penso que influenciou muito a minha escrita.

•                     Álbum "Seeds of time" do Dave Holland (+ Wheeler, Priester, Coleman, Smitty Smith) . Para mim de longe o mais engraçado a nível de composição, prefiro este a todos aqueles álbuns que vieram a seguir.

•                     Álbum:  "John Abercrombie/Marc Johnson/Peter Erskine" (1988)

•                     Bill Frisell  "Quartet"

•                     George Gruntz  Jazz Orchestra "Blues´n Dues Et Cetera"

•                     John Zorn "Naked City".

E actualmente, que músicos te inspiram?
Há bastante tempo já: Nils Wogram e John Hollenbeck

E coisas extra-musicais que sirvam de inspiração?
Numa pergunta acima  já me referi às sensações.
Qualquer tipo de impressões que afectem o espírito e as sensações... tal como a própria música o faz.
As estações por exemplo, têm um determinado aspecto, têm determinados cheiros, determinadas atmosferas, transmitem-me um determinado espírito de estar, que me abrem a mente. (Talvez soe muito esotérico...? )
Vou comparar com a própria música que me transmite dessas sensações também:
Se ouvir hoje, por exemplo, uma música que há 20 anos foi importante para mim, ao ouvir revivo, resinto o espírito da situação em que na altura me encontrei, lembro-me e vejo as pessoas que na altura faziam parte do meu presente, e consigo lembrar-me de vários detalhes. (tenho imensas músicas que para mim ficarão ligadas para sempre a situações, pessoas etc)
Da mesma maneira "vivo" e fico inspirado por  livros, quadros, quer dizer : um quadro que gosto consigo sentí-lo, não apenas ver. Uns  quadros como por exemplo os muito conhecidos "Night Cafe" (van Gogh) ou "Night" (Wassily Kandinsky) para mim transmitem uma determinada atmosfera, até um determinado cheiro, reconheço neles situações que me lembram a situações parecidas que eu já vivi.
Talvez possa dizer, quando "mergulho" em determinadas músicas, livros, quadros, isso permite-me estar no presente e no passado ao mesmo tempo. E isso é bastante inspirador!

Que importância dás ao estudo? Praticaste muito enquanto estudante? Que conteúdos tinham mais ênfase na tua rotina diária? E hoje em dia o que é que praticas?
Dou muita importância, mas a realidade de trabalhar em fulltime na ESML não me tem permitido estudar o tempo que preciso. Ao longo dos últimos 5 anos tenho dado demasiadas aulas que me afastam do meu instrumento. Até lá estudava entre 3 a 5 horas por dias, tal como o fiz enquanto estava na Superior...Os estudos normalmente consistem em técnica, repertório e coisas mais específicas para o improviso sobre progressões harmónicas.
Não me vou referir aqui a coisas especificamente trombonísticas, mas talvez fale daquilo que segundo a minha opinião possa servir também noutros instrumentos.
Quanto às "coisas mais específicas para improviso sobre progressões harmónicas estudo muito tonalidades+voiceleading de uma maneira algo mais "minha", se bem que naquilo se reflecte bastante a abordagem harmónica como a conheci na Holanda, onde estudei.
Improviso ou estudo padrões a passar por 5 tonalidades de base: Maior(e menor natural), Menor & Maior Harmónico, Menor Melódico.
Dominar por exemplo a tonalidade de menor-melódico, isso quer dizer que sei reproduzir fluidamente a respectiva escala a partir de cada uma das suas sete notas, seja ascendente ou seja descendente.
Não especifico por nomes de 28 modos pois ponho em causa de que isso me sirva para alguma coisa. Domino-os automaticamente se dominar tais tonalidades. A experiência (com alunos em trombone e até em composição) diz-me que o contrário é menos provavel, ou quer dizer: se estudo e separo montes de modos de forma matemática, não me consigo facilmente mover de visão horizontal em progressões harmónicas, os menos experientes a fazerem isso, interrompem constantemente frases, para iniciar de novo a partir da fundamental de cada próximo modo. Porquê? Porque não dominam a tonalidade e porque não vêem o voiceleading entre os acordes. Claro que isso pode ser ultrapassado por estudar muito, mas prefiro pensar logo mais fácil.
Para improvisar sobre uma estrutura harmónica tenho de ser capaz de perceber o voiceleading das notas entre os acordes/graus (onde temos tonalidades), e derivar o seu "material de notas" proveniente das tonalidades, é preciso sermos capazes de modular entre tons num instante, no meio de uma frase/ideia. Assim tocamos com visão horizontal pela estrutura. Numa forma geral penso que o voiceleading está a ser estudado muito pouco nas escolas. Em aulas de combo ou de composição e  arranjos reparei em alunos até de instrumentos harmónicos não estarem bem conscientes de bom voiceleading. Interpretar da mesma maneira Fmaj7/G  e  Gsus7, ou o vício de bombardear com #11 qualquer acorde maior ou dominante é um bom indicador de um pensamento vertical, sem  percepção horizontal.
O princípio "chord-scale" conhecido por métodos do género Jamey Aebersold é uma abordagem vertical que nem só nada nos diz acerca do voiceleading, parece-me até um obstáculo à forma horizontal de improvisar sobre progressões. Para aqueles instrumentos, que não tocam acordes (e que por isso não estão tão dentro da matéria), o voiceleading é um pensamento extra, separado.
Além disso: compare as escalas do dórico modal com o 2o grau na tonalidade maior, que consistem nas mesmas notas. Mas quanto às cores que vamos destacar nos diferentes contextos, não é nada a mesma coisa.... Em frígio ainda é maior a diferença: Muitos "character-tones" ou extensões de um determinado modo são "passing tones" ou até "avoid tones" na mesma escala no contexto tonal e harmónico-funcional.
Numa progressão pura em dó maior isso quer dizer que pense apenas em dó maior + o voiceleading entre os acordes. Caso o sol dominante no contexto de dó maior, tenha uma nona menor, tenho opções diferentes, mas a minha primeira opção será a de tocar em dó maior harmónico. Pois naquele grau a tonalidade leva 6 menor, de resto posso mas não preciso alterar mais nada. 
Nunca percebi bem a lógica de atribuir uma escala a cada acorde e de falar em modos diferentes no contexto de tonalidades (com ou sem intercâmbios). Se dominar as tonalidades e se perceber do voiceleading dos seus acordes, não preciso de falar em modos.

Tiveste ou tens aqueles fantasmas de 'deveria ter estudado o músico x ou o conteúdo y'? Como contrarias isso?
Quanto ao "conteúdo y" nunca é tarde demais para começar.
Quanto ao "músico x": Podia tirar uma licenciatura a seguir à outra, mudando sempre o prof. e o país. Mas não sou rico, e não posso fazer isso. Estou grato por poder estudar com um prof que me deu as ferramentas todas, para poder progredir sozinho. Só 4 ou 5 anos depois de ter graduado, sempre a reflectir e estudar o material, comecei a acreditar de que tenha alguma coisa boa a transmitir como trombonista e comecei a estar contente com o meu som. Mas, poder progredir sozinho não quer dizer que seja igual a estudar e progredir com a ajuda de um bom professor e os seus impulsos!

Muitas vezes a questão da técnica do instrumento é confundida com número de notas por segundo. O que é para ti a técnica do instrumento?
E som do instrumento? Que idealizas para o teu som? 
Pois, confesso que admiro trombonistas que saibam tocar rápido com definição em cada nota, pois isso no trombone é particularmente difícil....! No entanto um dos trombonistas que sabe tocar extremamente rápido, o super virtuoso Bob McChesney não me diz nada pois o discurso é repetitivo e cheio de malhas. O Nils Wogram (recomendo o álbum "Speed Life") a tocar rápido diz-me muito! Não toca tantas malhas, e se as toca, as malhas são suas. (Aliás seria também um boa questão para entrevistas:  "muitas vezes estudar/saber improvisar é confundido com a reprodução de malhas e padrões estudados.....O que para ti é o improviso e considera-lo mesmo ser uma coisa muito livre?“
Técnica de instrumento :  ter boa técnica para mim quer dizer, que eu domine o instrumento e consigo tocar confortavelmente nele, também cenas puxadas. Pois o contrário é ser dominado pelo instrumento....
Quanto ao som do trombone sou fâ de um som e fraseado que soa algo a "modern smooth playing",  em conseguir tocar um legato muito limpo com som muito vocal no trombone, tal como trombonistas como Nils Wogram e Ed Neumeister hoje tocam, e o Bob Brookmeyer na última fase da sua vida tocou.

Que importância dás à composição?
Muita importância. Diria que muitos músicos de Jazz dão.  No Jazz existe o fenómeno de toda gente se chamar "músico-compositor" enquanto sabe escrever melodias com acordes (leadsheets). Compare-se: Um "compositor" no sentido clássico quando cria uma obra prima isso consiste na orquestração toda, preocupa-se com timbres e texturas etc. Na música jazz curiosamente atribuimos essa responsabilidade ao arranjador.  Isso é um pouco estranho para mim que me identifico mais com o termo do compositor no sentido clássico. Pois o processo de compor ou arranjar para mim é o mesmo, com a pequena diferença da matéria prima ser ou minha ou de outra pessoa. A verdadeira criatividade a meu ver consiste em saber fazer arranjos, não é em inventar apenas a matéria prima. Muitas vezes ouvi arranjos e pensei que o trabalho do arranjador foi muito mais importante para o resultado final que aquilo que o compositor criou... A matéria prima mais simples pode ganhar vida com boa instrumentação. Mas a matéria prima melhor e mais bonita do mundo corre o risco de brilhar pouco se o seu compositor não souber "encená-la". Na maioria dos meus temas defino logo a instrumentação e utilizo-a de de forma consciente. Isso para mim é inseparável do processo criativo.  Há poucos temas meus que poderia reduzir a um leadsheet.

Ficas nervoso quando entras em palco?
Um pouco antes. A partir da 1a nota desaparece.
Só uma vez me lembro de ter tido mesmo stress durante o concerto. Foi Maria João & Mário Laginha + Big Band do Hot Clube de Portugal , acho que foi em Leiria. Tocava (ou melhor: tentei tocar) eufónio no tema "Horn Please" que veio a seguir ao tema "Beatriz" que não tinha sopros.
O tema era muito dirigido, tinha ralentandos, accelerandos, fermatas...., e a seguir a cada fermata não consegui apanhar /controlar nenhuma das próximas entradas que o maestro (na altura o Pedro Moreira) deu, em vez disso vieram ruídos estranhos do meu lado, eu a desfazer me em suor e ficar vermelho cada vez mais com cada balda que dava enquanto o resto da big band estava bem junto. Depois do concerto reparei que os pistons estavam trocados, tinha-os mal colocado depois de os limpar! Que horror!

E tens ou já tiveste pensamentos parasitas que podem influenciar a tua prestação em palco? Do género 'O que é que estou aqui a fazer?!' 'O público não se cala??' ou 'Está ali a pessoa X na plateia, tenho de tocar bem!'. Como dás a volta?
Sim claro. De tudo. Pode ser que uma determinada pessoa a que dê importância esteja no público e fico feliz por isso e sinto que tenho de fazer ainda melhor. Isso é óptimo para o resultado!
No entanto já toquei concertos em estado sem vontade nenhuma de tocar, a ficar desmotivado em pleno palco. Não me acontece muito, mas quando acontece admito que é chato.....

Ouves rádio?
Sim, mais de manhã mas não oiço rádio à procura de música, procuro mais programas em que se fala , documentários, debates, etc.  Ouvir esses programas ajudou-me muito para melhor entender o português. 
No entanto já algumas vezes ouvi passar música na rádio já durante um tema, comecei a gostar e  tento gravar e depois procurar/saber de que é que se tratou.

Interessa-te a música que se faz em Portugal? Qual a tua opinião acerca disso?
Seria estranho decidir viver aqui e manifestar não ter interesse naquilo que aqui se faz, não é?
Há cada vez mais e melhores músicos novos por cá.
A evolução do jazz  todavia não depende da quantidade de músicos, depende da atitude dos seus músicos, em particular dos mais novos, em relação ao passado e em relação à música que actualmente se faz.
Temos um número enorme de músicos de jazz novos em Portugal, entre qual existem alguns com um invejável talento  (!!)  Digo isso como um músico que teve de trabalhar duramente para o pouco que sabe....!  uma parte deles vi passar por perto como dou aulas na Escola Superior de Música de Lisboa.
Isso segundo quem vive aqui há 15 ou 20 anos atrás é uma situação nova.
Com tanta quantidade de novos músicos e desde que um músico de jazz seja um artista criativo, supostamente devia disparar o número de grupos novos. E sim, têm aparecido grupos verdadeiramente novos.
Mas entre a enorme quantidade de jovens por cá, há um número grande de quem não apresenta, não investe em nada seu! Não percebo! 
E confesso que me estranha a mentalidade de alguns, bastantes, que ora quanto a concertos de grupos/nomes de prestígio/mérito, se portam como  "peregrinos a irem a Fátima", e ora quanto a tudo aquilo o que é novo e menos conhecido, parecem até menos interessados em música que a cozinheira da minha tasca preferida. Dificultam o seu próprio futuro enquanto não se respeitam/valorizam uns aos outros, enquanto ignorarem o seu potencial pois é uma postura que não favorece o dinamismo de inovação, que diria que é fundamental no jazz!
Ao meu ver um músico de jazz é uma artista, tem algum(a) interesse/mentalidade  de ouvinte e consumidor, mas também deve ter a mentalidade, ou uma certa ousadia (ingénua) de criador.
Se eu não acreditasse em ter algo meu a acrescentar à música, eu nunca teria estudado música jazz! Quando eu tirei o curso, penso que desempenhávamos um papel algo mais activo, experimentávamos e criávamos mais, e talvez fossemos algo mais distantes dos nossos professores: tinhamos todo o respeito por eles, mas também nos valorizávamos a nós próprios (embora musicalmente muito verdes ainda).
Fiquei muito contente quando li no Público uma crítica que deu 5 estrelas ao disco "A casa da árvore" do João Firmino. 5 estrelas para um nome relativamente pouco conhecido!  Está de parabéns!

O que andas a ouvir ultimamente?
É que vario muito....

Aaron Goldberg 4teto
John Hollenbeck Large Ensemble
Nils Wogram  7teto "Odd and Akward"
The Who
Florian Ross  "Brass Project"
Joe Henderson "In ´n Out"  (o meu aluno Mário fez-me voltar a ouvir isso...)
Wayne Shorter "Alegria"
Defunkt "One World"
Selim Sesler (música tradicional turca) no youtube....
.....entre outras coisas....

Em jeito de despedida, fala-me do que andas a fazer actualmente e o que é que te imaginas a fazer daqui a 10 anos?
Francamente os tempos são de muitas difuculdades, nomeadamente no que diz respeito à profissão livre em alturas de crise, com os cortes enormes que se reflectem em menos concertos, nomeadamente no que diz respeito à música não comercial. Pelo que prefiro não olhar demasiado para frente. É que não sei o que vai poder acontecer.
Mas gostava de gravar mais um disco com o 6teto L.A. New Mainstream (ainda tenho temas na manga), mas antes gostava de gravar um disco no 1o formato do meu quarteto "L.A.JumpingPulgas", trombone/sax/baixo/bateria.
Com o actual elenco da Tora Tora Big Band espero gravar mais um cd, embora tenhamos tido muita dificuldade em vender o grupo pois somos muitos e os tempos não favorecem nada esses grupos grandes....
Eu para variar gosto de tocar outras coisas fora do jazz!
O grupo guineense "Tabanka Djaz" vai lançar o seu próximo álbum este ano. O grupo foi o primeiro da áfrica lusófona a conseguir um disco de platina pela quantidade de álbuns vendidos e os Tabanka são bastante famosos lá em África. Um novo álbum promete muitas viagens e concertos lá por fora...
E depois a cantora portuguesa Mafalda Veiga que vai apresentar um formato mais acústico em que faço parte, além disso o novo álbum do grupo grande parece que vá ter um trombonista....trabalhar com ela é trabalhar num elenco muito porreiro e em condições de trabalho que no jazz não tenho encontrado nos últimos anos.... Fico grato por estar envolvido numa série de grupos que no ponto de vista do músico jazz são considerado mais "comerciais" e que em tempos de crise nos ajudam bastante! Eu não quero tocar só jazz, quero mais variação possível.


3 Comments
Mark Fisher link
21/10/2022 01:29:14 pm

Deal career behind turn term manager southern. Kid add guess arm ok now.
Mind create start leave. Up again attack beat although.

Reply
Jordan Morgan link
14/11/2022 08:40:41 am

When past action town century benefit. Size television staff way.
Attorney no human pull teach popular. Network recently north drive career put.

Reply
Flat Roofing Contractors Thousand Oaks link
6/5/2024 11:08:52 pm

Niice blog you have

Reply



Leave a Reply.

    ​ENTREVISTAS:

    Rui Camacho
    Vítor Sardinha
    Paulo Esteireiro
    João Paulo Esteves da Silva
    Jorge Reis
    Carlos Barretto
    Sara Serpa
    Marcos Cavaleiro
    Lars Arens
    Afonso Pais
    Maria João
    Demian Cabaud
    Desidério Lázaro
    André Matos
    André Fernandes
    Bruno Santos
Powered by Create your own unique website with customizable templates.
  • Home
  • BIO
  • Calendar
  • Pictures
  • Videos
  • Press
  • Discography
  • Blog