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Entrevista XI - Carlos Barretto

1/11/2013

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Antes de mais fala-me um pouco de ti, do teu percurso e dos momentos que mais te marcaram até hoje.
Sou uma pessoa simples.
Nasci a ouvir jazz. Nos dias de hoje já é normal as pessoas nascerem a ouvir jazz, mas nos anos cinquenta isso era uma raridade extravagante, pelo que me senti abençoado e privilegiado

(sobretudo num país  como o nosso, então subjugado pela ditadura) por ter tido uns pais que ouviam jazz. Também não havia computadores nem telemóveis, éramos obrigados a copiar os solos dos grandes mestres directamente a partir dos discos 33 rotações e um pouco mais tarde em gravadores de cassete.
Quando era miúdo ouvi grandes músicos, como Mal Waldron ou Lee Konitz e anos mais tarde viria a tocar com eles, tomar consciência disso por si só é um facto marcante na minha vida e mais uma vez penso que fui afortunado...

Que mensagem ou sensações tentas passar na tua música?
Quando estou a tocar eu não tento nada, eu não penso, apenas sinto e deixo-me ir, deixo fluir...mensagem? A música está feita para partilhar sensações, para elevar a alma, não há mensagem. Há apenas um sublimar do espírito.

Que qualidades admiras num músico e o que é que define para ti um bom músico?
Para mim um bom músico é um gajo que já amadureceu como o vinho do Porto, depois de ter dado umas voltas ao mundo, depois de ter passado anos a tocar e a estudar com as pessoas certas, é um gajo que  já não copia os seus ídolos, que não debita malhas estudadas, que constrói a sua voz pessoal pois todos temos uma e todos somos diferentes e únicos.

No Jazz, e não só, fala-se muito em respeitar a tradição. Que importância dás ao que se passou para trás? Achas que se respeita a tradição hoje em dia?
A tradição é o legado cultural que vem do passado, é a memória da própria história. São as fundações, os pilares de uma casa. Conhecendo a tradição estamos preparados culturalmente para fazer a revolução. As regras existem para ser quebradas, mas se não as conhecermos não vamos a lado nenhum. Para mim, respeitar a tradição é conhecê-la e curvar-me perante ela. Mas nada nos impede de experimentar caminhos novos.

Ainda em relação à tradição, que corrente mais te influenciou e que discos e músicos foram uma inspiração para ti?
Sempre gostei de aprender coisas novas mas de forma gradual, tudo  precisa do seu tempo para ser digerido, o free jazz, por exemplo, foi uma revolução complicada para o meu entendimento, mas depois de múltiplas audições, depois de escutar inúmeros músicos ao vivo, a coisa foi entrando, demorou anos, ainda hoje há cenas que me irritam ouvir...

E actualmente, que músicos te inspiram?
Hoje em dia muita música me inspira, não só o jazz, a minha relação com o jazz está a entrar numa fase de saturação, isto é, quando oiço jazz constato um nível técnico impressionante nos jovens músicos de hoje, mas falta-lhes algo, uma voz própria, intensidade, é normal, andam todos a tentar tocar como o Parker, Coltrane, Rollins ou sucedâneos...para não falar dos estilos de jazz praticado, que me soam repetitivos e de fórmulas já muito utilizadas no passado. Dentro da música de jazz prefiro escutar os grandes mestres (Miles, Coltrane, Ornette, Bill Evans)...

O que andas a ouvir ultimamente?
Neste momento ando a ouvir um instrumento africano fantástico, a "Kora", tocada por Toumani Diabaté e Ballake Sissoko em duo, esta música inspira-me, transmite tradição e espontaneidade, toda a essência do ritmo africano, que como todos sabemos está na origem do jazz.

Que importância dás ao estudo? Praticaste muito enquanto estudante? Que conteúdos tinham mais ênfase na tua rotina diária? E hoje em dia o que é que praticas?
Tirei o curso do Conservatório. Nos dois primeiros anos de contrabaixo andei a marcar passo, depois interessei-me muito pelo estudo nos anos seguintes e  entrava no conservatório às 9 da manhã e saía de lá às 5 da tarde, fazia 6, 7 horas diárias, gostava de estudar num instrumento do século XVlll que lá havia (ainda lá está), tinha sido propriedade do rei D. Carlos que o doou ao conservatório, um belíssimo instrumento...
Depois também frequentei a primeira escola do Hot Clube, em 1979, estive só um ano ou 2, mas foi uma experiência muito marcante para mim, pois tinha pouca experiência a tocar em grupo...depois foi transcrever solos dos discos, ver como faziam os grandes mestres, tentar introduzir linguagem no meu discurso, imitando-os...
Preocupei-me em tocar todos os dias, todas as noites, em grupo, fosse gig, ensaio ou jam session...
Hoje sinto-me mais calmo, tento praticar diariamente, claro, para manter a técnica, mas o que eu gosto mesmo é de estar em cima do palco, interagir com outros músicos e com o público.


Muitas vezes a questão da técnica do instrumento é confundida com número de notas por segundo. O que é para ti a técnica do instrumento?
A técnica do instrumento, para mim, é quando as mãos conseguem seguir o pensamento, ter uma ideia musical e conseguir passá-la logo para os dedos, a técnica deveria estar dependente da maturidade mental e não o oposto.


E som do instrumento? Que idealizas para o teu som?
Todos somos diferentes e únicos. Cada pessoa tem o seu "som", nos instrumentos (falando de contrabaixo) passa-se o mesmo...há que ter um bom instrumento, que soe bem acusticamente falando.
As escolha das cordas também tem que se lhe diga, para arco é uma coisa para pizzicato, outra. Há muitos anos atrás utilizei as cordas de tripa por darem uma resposta satisfatória, um som redondo no pizzicato, mas com o arco soava-me horrível, para não falar na fraca definição da afinação e o facto dessas cordas serem demasiado grossas. Ora eu gosto de utilizar o arco, utilizo frequentemente, por isso  adoptei as thomastik, que servem para  os dois sistemas (arco e pizzicato), têm um som bem definido, sustain, ataque, tudo.
Depois é a amplificação: utilizo uma cabeça Walterwood, que deve ser do melhor que há neste mundo para contrabaixo, amplifica o som de forma muito natural, sem perder aquele timbre da madeira, som redondinho. Quanto a pickups, já utilizei vários, mas evito os que prendem ou impedem as vibrações e o contacto entre cavalete e instrumento. Por isso continuo a utilizar o Underwood. Para salas grandes acrescento um microfone cardióide, um AMT, que dá um som bem quentinho de madeira para a sala...


Ficas nervoso quando entras em palco?
Fico sempre nervoso antes de entrar no palco, é a adrenalina que está lá em cima, nos píncaros, penso que acontece a todos, mas já a conheço bem e consigo manter a calma aparente. Depois, com as primeiras notas, tudo volta à tranquilidade e é só deixar fluir...

E tens ou já tiveste pensamentos parasitas que podem influenciar a tua prestação em palco? Do género 'O que é que estou aqui a fazer?!' 'O público não se cala??' ou 'Está ali a pessoa X na plateia, tenho de tocar bem!'. Como dás a volta?
Se houver ruído na sala ou pessoas a conversar, a incomodar, sou capaz de parar a música e admoestar essas pessoas em público, geralmente resulta, por vezes o respeito tem de ser conquistado a pulso, com firmeza, é mais forte que eu, sou franco e directo, mesmo sabendo que estou a fazer o papel de "mau".

Ouves rádio? Interessa-te a música que se faz em Portugal? Qual a tua opinião acerca disso?
Gosto de toda a música, ouço rádio no carro, como ando muito na estrada vou ouvindo, sobretudo o que se passa na música portuguesa, mesmo da pop. O que se passa é que agora os media são comprados pelos grandes grupos financeiros, que vão baixando deliberadamente o nível de qualidade do que emitem, é muito triste esta realidade. Oiço sobretudo a rádio pública (antena1, 2 e 3) por não haver publicidade...

O que andas a ouvir ultimamente?
Neste momento ando a ouvir um instrumento africano fantástico, a "Kora", tocada por Toumani Diabaté e Ballake Sissoko em duo, esta música inspira-me, transmite tradição e espontaneidade, toda a essência do ritmo africano, que como todos sabemos está na origem do jazz.

Em jeito de despedida, fala-me do que andas a fazer actualmente e o que é que te imaginas a fazer daqui a 10 anos?
Neste momento faço muito free lance, mas mantenho meus projectos a solo, em trio (Lokomotiv, com Mário Delgado e José Salgueiro), pinto, dirijo workshops no meu atelier no Intendente, dedico-me à transversalidade nas artes, tipo música-dança, pintura-video, música-pintura, sobretudo dedico-me à improvisação de forma mais lata e abrangente.

3 Comments
Caiden link
19/5/2022 08:35:58 am

Thanks for the posst

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Eric Murphy link
6/10/2022 09:10:45 am

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