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Entrevista XII - Jorge Reis

2/12/2013

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Antes de mais fala-me um pouco de ti, do teu percurso.
Antes de mais!! Iniciei o meu percurso musical aos 6 anos, na música clássica, instrumento violino. Na adolescência comecei a prestar atenção ao Rock (Beatles, Genesis, Led Zeppelin, géneros diversos, portanto), depois ao Jazz (primeiro Jazz Rock, que fundia os 2 estilos, por exemplo Mahavishnu Orchestra e Return to Forever).  Um fascínio pelo saxofone surgiu, e aos 23 anos comprei o meu 1º sax, e abracei o bebop, mas também a improvisação com poucas barreiras estilísticas, penso que como consequência das minhas predileções no universo da música clássica. Gostava, e gosto, de Brahms, Bach, Chopin, Liszt, Chostakovitch, Ravel, Richard Strauss, Wagner, Stravinsky... Tudo isto permeou as minhas opções musicais (de forma inconsciente, enquanto me pude dar ao luxo da inconsciência). Quando optei pelo Jazz trazia na bagagem um património de música clássica que molda, até hoje penso eu, a minha abordagem ao discurso musical improvisado.

Que mensagem ou sensações tentas passar na tua música?
Aquilo que me atraiu na música foi a capacidade de falar uma língua diferente, sem palavras, que me tomava de assalto, uma experiência de realização espiritual que me pareceu ser o melhor de mim enquanto ser humano, e essa sensação nunca me abandonou. Penso que a comunicação, a passagem dessa sensação para os outros, terá aparecido um pouco mais tarde, mas a partir do momento em que apareceu foi-se convertendo numa vertente crucial na maneira como a música faz parte da minha vida.

Que qualidades admiras num músico e o que é que define para ti um bom músico?

Admiro num músico a sua total subserviência à música, a rendição pessoal ao milagre, e o prazer que desta maneira um músico consegue obter para si próprio, para os outros músicos e para quem ouve. O lirismo, o valor poético e melódico, também me seduzem. A  destreza rítmica, a capacidade de ouvir os outros e tocar com e pelos outros.

No Jazz, e não só, fala-se muito em respeitar a tradição. Que importância dás ao que se passou para trás? Achas que se respeita a tradição hoje em dia?

Penso que a tradição não é um valor respeitável em si próprio, não é difícil encontrar tradições pouco respeitáveis, será a lógica do avanço civilizacional. No caso do Jazz em particular, aquilo que se chama tradição são componentes estilísticas que se afirmaram ao longo dos tempos, umas foram sobrevivendo, outras não. Não existe desrespeito quando se fazem opções musicais que rompem com o passado, assim como a validade das tendências de uma determinada época não depende da sua afinidade com o que foi feito antes. Dito isto, aprecio a maneira como cada época incorpora componentes de tradições de épocas anteriores, e acho que estudar o passado e aprender com o passado isso sim é intrinsecamente válido, a humanidade contém em si a predisposição para a mudança proveniente justamente do conhecimento anteriormente adquirido.

Ainda em relação à tradição, que corrente mais te influenciou e que discos e músicos foram/são uma inspiração para ti?

Não vejo que alguma corrente me tenha influenciado especialmente, mas sim músicos, daí resultando as correntes que eles próprios seguiam ou seguem.
Keith Jarrett, Wayne Shorter, Joe Lovano, Art Tatum, Lee Konitz, Brad Meldhau, Chris Potter, Perico Sambeat, Julian Arguelles, Charlie Parker, Phil Woods, Herbie Hancock, Dexter Gordon, Miles Davis, John Coltrane, Chick Corea, Bill Evans, Jim Hall, Wes Montgomery, Michael Brecker, Cannonball Adderley, Freddie Hubbard, Charlie Mingus, Clifford Brown, Booker Little, Kenny Garrett, David Binney, John Scofield, Dave Holland, Kurt Rosenwinkel, Kenny Wheeler, Mark Turner, Kris Bauman, Thomas Morgan, Jan Garbarek, Jordi Rossy, Nasheet Waits, Bill Stewart, Charlie Haden, Dewey Redman, Paul Motian, Ornette Coleman, Elvin Jones, Dave Douglas. Outros, muitos outros, em menor grau de lembrança.
Portugueses:
André Sousa Machado, João Paulo Esteves da Silva, André Fernandes, João Moreira, Afonso Pais, Nuno Ferreira, João Lencastre,  Óscar Graça. Outros, em menor grau de lembrança.

E coisas extra-musicais que te inspiram?

Inspiram-me a observação do panorama humano, das emoções, da expressão artística que nos atrai e subjuga, o cinema, a poesia, a empatia, musical e pessoal, com outros músicos. O sentido de partilha de um milagre do qual a comunidade musical fala quotidianamente, a trivialidade com que falamos de coisas tão pouco triviais, a transcendência que, de forma  tão sublimemente casual, nos leva ao colo e transfigura. Inspiram-me os animais, a natureza, a beleza inerente à nossa tentativa esperançosa, desesperada e comovente de fazer sentido do desconhecido, do temido, do alheio e inatingível.

Que importância dás ao estudo? Praticaste muito enquanto estudante? Que conteúdos tinham mais ênfase na tua rotina diária? E hoje em dia o que é que praticas?

O estudo pertence ao domínio do percurso individual, sendo que é muito importante, na esmagadora maioria dos casos. Não pratiquei o suficiente, mas sinto que não é tarde. Coloco ênfase na estruturação do estudo, na sua repartição por conteúdos, seguida de junção progressiva e, se tudo correr bem, total. Pratico som, técnica, ritmo, melodia, harmonia, e construção, condução e elaboração do discurso improvisado, como percurso para a reunião de factores.

Tiveste ou tens aqueles fantasmas de 'deveria ter estudado o músico x ou o conteúdo y'? Como contrarias isso?

Penso que existe conveniência em não conferir a esta problemática o estatuto de “fantasmas”. Os músicos improvisadores devem estar despertos, atentos, por definição. Incorporar influências nunca deve ser descartável, logo está-se sempre a tempo. “Deveria ter” equivale a dar por encerrada a pesquisa, a pergunta. Não pode, ou pelo menos não deve, ser compatível.

Muitas vezes a questão da técnica do instrumento é confundida com número de notas por segundo. O que é para ti a técnica do instrumento?

A velocidade é uma das componentes importantes da técnica, velocidade equivale a acréscimo de energia, acréscimo de variabilidade de opções. Portanto nunca é demais o número de notas por segundo que se consegue tocar. No entanto características como expressividade, timbre,  domínio rítmico, volume, utilização de acessórios tecnológicos, são igualmente importantes na aquisição de domínio técnico. A técnica inclui a velocidade, mas não se esgota na velocidade.

E som do instrumento? Que idealizas para o teu som?

Não sei descrever por palavras. Desejo que o meu som seja mágico, me cative e cative os outros. Quero comunicar através do som, quero que o meu som seja moldado pela música a que me desejo juntar e acrescentar algo de pessoal.

Ficas nervoso quando entras em palco?

Fico, por vezes, outras vezes não fico.

E tens ou já tiveste pensamentos parasitas que influenciam a tua prestação? Do género 'O que é que estou aqui a fazer?!' 'O público não se cala??' ou 'Está ali a pessoa X na plateia, tenho de tocar bem!'. Como dás a volta?

“O público não se cala” é um parasita recorrente, tenho dificuldade em aplicar uma estratégia que combata eficazmente o problema. A “pessoa X” também interfere, por vezes, na minha prestação, remeto para a pergunta anterior.

Ouves rádio?

Só no carro, e como não guio, não ouço por aí além.

Interessa-te a música que se faz em Portugal? Qual a tua opinião acerca disso?

Sim. O Jazz português interessa-me, somos uma comunidade que viaja em conjunto. À música clássica portuguesa estou menos atento, sempre na esperança de emendar a mão. A música popular, rock, e pop portuguesas interessam-me porque reconheço nelas qualidade, identidade e dinâmica cultural. Também como praticante que fui, e continuo a ser, de músicas que não o Jazz, por maioria de razão. Talvez seja mais funcional citar nomes: José Mário Branco, Zeca Afonso, Sérgio Godinho, Janita Salomé, Clã, JP Simões, Carlos Paredes. De outros me lembrarei noutra oportunidade.

O que andas a ouvir ultimamente?

Tenho os meus “heróis”,  uns intemporais, outros mais, ou menos, efémeros (já os referi). Depois é uma questão de gestão de tempo, espírito e opcão profissional. Repito, revisito, descubro,redescubro, dedico exclusividade... Gosto de ouvir o mesmo disco, os mesmos solos, vezes sem conta, porque a gratificação se mantém, e o porquê, o mistério, são indecifráveis ao ponto de não fazer tenção de interromper. Penso na invenção e crença do ser humano, “daqueles” seres humanos que inventaram, e na circunstância intelectual e espiritual que desencadeou neles a criação da música que admiro. Imploro-lhes que me comovam, e sou atendido, sempre, uma e outra vez.

Em jeito de despedida, fala-me do que andas a fazer actualmente e o que é que te imaginas a fazer daqui a 10 anos?

Actualmente ando a tentar tocar o meu melhor, com as melhores pessoas/músicos que estão disponíveis para mim. Daqui a 10 anos espero estar a fazer o mesmo. E a compor.

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