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Entrevista XIII - João Paulo Esteves da Silva

1/1/2014

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Antes de mais fala-me um pouco de ti, do teu percurso.
Muito de passagem, para não doer. Aprendi a tocar piano muito cedo, aos 4, 5 anos, mas só me apaixonei pela música mais tarde no início da adolescência quando comecei a querer tocar rock com amigos do bairro e do liceu. Nessa altura queria ser guitarrista…depois descobri que o meu destino era outro e, nomeadamente, que o piano levava já um grande avanço em relação à guitarra em termos de integração corporal. Hoje, continuo a gostar muito mais de música do que de piano mas reparo que, pronto! faz parte do meu corpo, e já não há nada a fazer.

Que mensagem ou sensações tentas passar na tua música?
Para dizer a verdade, não tento nada, não tenho intenções desse género. Espero que a música passe, claro, mas não faço nada de especial nesse sentido, pelo menos em termos conscientes. A música-sobretudo para o improvisador-é uma coisa que acontece ; a intenção, no meu caso, é a de poder e conseguir estar à altura do acontecimento. Todo o trabalho de preparação e de estudo se dirige para esse fim.

Que qualidades admiras num músico e o que é que define para ti um bom músico?
Acho que já comecei a responder um bocadinho. A grande qualidade para mim, a mais imprescindível, certamente, é a escuta; nos seus variados aspectos e meandros, seja: subtileza de análise, rapidez, atenção a si mesmo, ao próprio corpo e ao(s) outro(s)  etc... a escuta condiciona a técnica e só ela permite que o virtuosismo eventualmente faça sentido.

No Jazz, e não só, fala-se muito em respeitar a tradição. Que importância dás ao que se passou para trás? Achas que se respeita a tradição hoje em dia?
Sim, dou extrema importância ao que se passou para trás. A tradição, no jazz, é, felizmente, uma história de excelência musical. Os grandes músicos do passado continuam bem presentes ou seja, continuam a ter futuro. Agora, respeitar não significa apenas imitar (se bem que toda uma parte da formação/aprendizagem tenha que ser imitativa) mas sim continuar, poder acrescentar novos episódios à história, sejam eles episódios grandiosos ou modestos…

Ainda em relação à tradição, que corrente mais te influenciou e que discos e músicos foram/são uma inspiração para ti?
Variadíssimas correntes e estilos: a música clássica, Bach, Mozart, Beethoven, Purcell… grupos como os Beatles, Pink Floyd, Génesis, Steve Winwood, Kate Bush… os chamados canto-autores nacionais e estrangeiros Sérgio Godinho, Zeca Afonso, Bob Dylan, Paul Simon…No jazz todos os «grandes» me continuam ainda a inspirar e a ensinar: Parker, Miles, Bud Powell, Bill Evans, Lennie Tristano, Wes Montgomery, Ornette, Paul Bley, Keith Jarrett entre muitos outros... Um dos discos que mais me marcou, acho eu, foi  «The Survirvors Suite» do Keith Jarrett com o quarteto americano. Tê-lo-ei ouvido umas centenas de vezes. Ajudou-me a descobrir a minha condição de músico português..

E coisas extra-musicais que te inspiram?
Dedico-me a muitas outras coisas além da música, a maior parte delas terão a ver com letras, poesia, filosofia, línguas; sou um estudioso assíduo da língua hebraica, por exemplo. Também me tenho vindo a tornar cada vez mais sensível às artes plásticas, pintura e fotografia sobretudo. Recentemente tive ocasião de realizar uma curta metragem…enfim, não sei até que ponto tudo isto me inspira para a música ou, vice-versa, se é a música que me leva para estas coisas, inclino-me mais para esta última possibilidade.

Que importância dás ao estudo? Praticaste muito enquanto estudante? Que conteúdos tinham mais ênfase na tua rotina diária? E hoje em dia o que é que praticas?
Houve um tempo em que estudei muitas horas diárias de piano. Tempo violento, certamente necessário mas que, graças a deus, já passou. Hoje em dia o meu estudo, no que toca à música, dirige-se para a preservação e se possível melhoria da escuta; e é algo que faço com e sem o piano. Pratico cada vez mais com a voz. Por ex: exercícios polifónicos em que canto uma das partes e toco as outras, no piano ou no acordeão; ou então exercícios de independência rítmica. Mas quando me sento ao piano, em casa, a maior parte das vezes, é para ler um pedaço de música clássica, Bach, Mozart, Chopin...também não há dia em que não toque um ou dois standards, tirados à sorte, ou um solo do Parker, em todos os tons, coisas deste género.

Que importância dás à composição?
Nos últimos tempos tenho dado mais importância à improvisação do que à composição com possibilidade de corrigir; mas, no fundo, o processo é muito semelhante. É só uma questão de velocidade. Fazer 10m de música em 10 minutos, e não em dez dias, por ex (esta é a definição do Bill Evans).  O ser improvisada não desculpa falhas no acabamento da obra, antes pelo contrário.

Tiveste ou tens aqueles fantasmas de 'deveria ter estudado o músico x ou o conteúdo y'? Como contrarias isso?
Gostava de ter estudado mais a fundo o Lennie Tristano; a minha admiração por ele tem vindo a crescer. E, ainda assim, tenho conseguido estudar um pouco mais a linguagem dele, nos últimos tempos, mas precisaria de uns dois ou três meses sem telemóvel…coisa que não vai acontecer, claro.

Muitas vezes a questão da técnica do instrumento é confundida com número de notas por segundo. O que é para ti a técnica do instrumento?
Vem mesmo a propósito o ter falado do Lennie Tristano. Ele dizia que a técnica é capacidade de expressar, sem entraves, as ideias musicais. Concordo plenamente; quanto menos entraves, melhor técnica. Um exemplo de grande técnica é o que se encontra em Thelonious Monk. Sei que esta minha afirmação pode surpreender, já que a técnica pianística do Monk não é das mais ortodoxas; mas o que é facto é que ele utiliza com mestria a técnica mais adaptada à sua própria música. Ninguém soa tão bem a tocar Monk como o próprio Monk. Nisto consiste, para mim, a excelência da técnica.

 E som do instrumento? Que idealizas para o teu som?
Ao contrário dos outros elementos da banda, eu nunca toco no meu instrumento. É uma das condições do pianista ter que se adaptar a variações que vão do Steinway sublime ao inominável chaveco. Mas seja como for o timbre faz parte da linguagem musical, com uma importância que varia com a música e os músicos. No meu caso, a importância do timbre tem vindo a crescer na minha linguagem. Aproveito para referir um músico actual que muito admiro e que é um mestre neste aspecto específico do timbre, para além de ser um músico fabuloso sob qualquer aspecto: o pianista Craig Taborn.

Ficas nervoso quando entras em palco?
Já não. Fico num estado alterado, mas não propriamente nervoso.

E tens ou já tiveste pensamentos parasitas que influenciam a tua prestação? Do género 'O que é que estou aqui a fazer?!' 'O público não se cala??' ou 'Está ali a pessoa X na plateia, tenho de tocar bem!'. Como dás a volta?
Sim, os pensamentos parasitas fazem parte dos inimigos da concentração. O ideal é só pensar em música e é maravilhoso quando isso acontece. Mas também acontece os parasitas poderem ser mantidos num canal que não prejudica a música. É estranho, dá-se às vezes como que um desdobramento da personalidade: alguém começa a pensar em coisas parasitas mas isso não impede o outro, que é o mesmo, de continuar a tocar, concentrado, sem lhe ligar nenhuma.

Ouves rádio?
Um pouco. Durante o pequeno-almoço, às vezes. E ao fim da tarde, antes do jantar.

Interessa-te a música que se faz em Portugal? Qual a tua opinião acerca disso?
Claro que sim. Sem ter a pretensão de estar a par de todas as novidades, tenho a sensação de que a «cena do jazz» está a crescer muito saudavelmente. Por exemplo, enquanto professor, na ESML e na Universidade Lusíada, tenho visto passar casos muito sérios; de jovens que combinam talento e capacidade de trabalho e que, assim sendo, vão dar novos mundos ao mundo.

O que andas a ouvir ultimamente?
Um amigo, aqui há semanas, enviou-me um link do youtube para uns vídeos da Judee Sill, uma cantora Folk-Rock dos anos 70. Não conhecia, e fiquei completamente apanhado por aquilo. Ainda não consegui parar de ouvir. A rapariga morreu de overdose em 1979, creio, e era mesmo genial.

Em jeito de despedida, fala-me do que andas a fazer actualmente e o que é que te imaginas a fazer daqui a 10 anos?
Nos tempos que correm, o que eu gostaria de levar mais longe, em concertos e gravações, seria o trio NO PROJECT com o Nelson Cascais e o João Lencastre. Ou seja, a improvisação no primeiro sentido da palavra, o tocar sem plano prévio. Talvez daqui a uns tempos volte a reunir temas para um grupo que seria o contraste, o pólo oposto, um YES Project, ou JES( João Esteves da Silva) Project. Não sei quando será, mas já faltou mais…
Daqui a 10 anos quem sabe se não quererei voltar a tocar música clássica em público, veremos…


2 Comments
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